Embora não deixe de ser um Explorer mais comprido e com ares de SUV coupé, a Ford recupera um nome mítico na casa. Há 40 anos o Capri teve o seu momento e agora volta à ribalta com uma aparência bastante diferente da de outrora. Algumas caraterísticas permanecem desse tempo, mas agora em versão elétrica e com tração traseira nesta versão intermédia.

Quando em 1969 a Ford apresentou o Capri, o objetivo era muito claro: queria desenvolver um coupé desportivo para o mercado europeu, com estilo, personalidade e desempenho ao alcance de todas as carteiras. Naquela época, e até 1986, quando foi descontinuado, o modelo não se saiu nada mal: chegou a registar 1,8 milhões de unidades vendidas.
Mais de quarenta anos depois, o seu sucessor traz um pouco desse espírito. Veja-se: também está direcionado para o cliente europeu (é fabricado em Colónia, na Alemanha), tem um certo ar coupé, ainda que no formato SUV da moda… mas o que vemos do Capri clássico na nova proposta da Ford?
A inspiração no modelo original é muito subtil, como se pode ver nas imagens. Talvez a linha descendente do tejadilho ao estilo coupé, juntamente com a forma arredondada da janela traseira; talvez as luzes diurnas na forma circular do modelo clássico, assim como os farolins; talvez a cor amarela de lançamento (sem custo adicional) …. Tão pouco surpreende esta política da Ford de recuperar nomes do passado para reinterpretar de uma forma moderna e muito diferente carros lendários. Se não, perguntem ao Puma, ao Mustang (com o Mach-E) ou ao Explorer.

Este último, no fundo, é que dá vida ao novo Capri, com muitos elementos partilhados e uma carroçaria incrementada para 4.634 mm, 4.468 no seu irmão original. E, por sua vez, os dois adotam a arquitetura elétrica do Grupo Volkswagen, fruto de acordos entre os construtores. Deste modo, Explorer (outro que não tem quase nada a ver com o anterior grande SUV híbrido plug-in) e Capri lideram a nova ofensiva elétrica da Ford, com uma gama que começa nas versões de tração traseira e 170 CV, passa pela “nossa” de 286 CV, já com bateria de maior capacidade, e culmina com o topo de gama Capri AWD de 340 CV.
Deixando de lado a componente emocional, o novo cenário remete-nos para uma condução apelativa e com uma certa dose de dinamismo. O Capri resolve a questão do desempenho, aquela que pode ter mais reminiscências com o seu antecessor, a partir de uma solução eficiente. Um motor elétrico traseiro que garante os referidos 286 CV e 545 Nm de binário máximo (o mesmo valor da versão de 340 CV e tração integral).
Com boa energia
A sensação de potência é notável, em linha com o que se espera de um elétrico, ou seja, disponibilidade imediata de força, em todo o caso aqui corretamente executada a partir dos pedais: o acelerador é progressivo e permite modular a energia sem sobressaltos. Ainda assim, tenha em conta que a sua capacidade de aceleração (0-100 km/h em 6,4 segundos) é boa e num hipotético arranque lutaria de igual para igual ou até venceria qualquer expoente desportivo da casa da oval azul, como um Focus ST, por exemplo. Nisto, os elétricos são imbatíveis.
Por outro lado, a travagem é confiada, como noutros produtos com esta plataforma VW, a discos dianteiros e tambores traseiros, solução que, segundo já foi explicada, oferece menos atrito e, em última análise, mais eficiência. Seja como for, não encontramos fraquezas neste aspeto, ainda mais se tivermos em conta que em muitas situações o Capri desacelera com o próprio motor elétrico. Não há alavancas para a travagem regenerativa (ajudaria a uma melhor interação), apenas um modo B de maior retenção (útil quando há pequenos declives, mais confortável porque não é necessário tirar o pé do acelerador) ou a habitual função de travagem automática consoante as condições do trânsito, cómoda dependendo da situação, mas menos precisa.
Não obstante, ao volante o Capri é agradável, fácil e mais predisposto a circular no asfalto do que fora dele. Conta com vários modos de condução: Range, Normal, Sport e Individual. Além disso, a sua altura livre ao solo é de 190 mm, muito correta. Apesar de tudo, é na estrada que mostra as suas melhores aptidões, muito estável e relativamente ágil nas curvas.
Tudo sem menosprezar a condução suave na cidade, onde faz manobras com facilidade (10,8 metros entre passeios). Neste ambiente, o consumo é moderado e, além disso, mantém-se em valores que, sem serem de referência, garantem autonomias médias em torno dos 450 km (monta bateria de 79 kWh úteis). Os 598 km e 14,6 kWh/100 km de homologação são numa utilização bastante tranquila ou com muitos percursos urbanos. Conseguimos uma média de 19,7 kWh/100 km durante o teste em todos os tipos de estradas, o que é razoável. Já a potência de carga desta versão é de até 135 kWh; 185 kW na mais potente com dois motores.
O Capri exibe um habitáculo confortável, apesar de concentrar quase todo o seu funcionamento no ecrã central. Não é só na plataforma elétrica que existe uma tendência VW, mas também na instrumentação digital, no sistema multimédia de funcionamento similar aos dos alemães (o equipamento de 14,6″ é completo e personalizável) …
Ford de estilo alemão
Mas a Ford deu-lhe o seu próprio toque, bem-apresentado e com algumas soluções originais, como a possibilidade de deslocar e inclinar manualmente o ecrã central em 30º para revelar um espaço de arrumação por trás, oculto e bloqueado quando o veículo é fechado.
Os vários espaços espalhados pelo habitáculo são úteis, aos quais se junta o compartimento MegaConsola de 17 litros entre os bancos e, mais atrás, a bagageira, melhor que a do seu irmão Explorer, mais compacto. O Capri atinge uns bons 567 litros (quase mais 100 litros), e o piso pode ser colocado em duas alturas.

Para os passageiros cumpre com pequenas observações: alguém com mais de 1,80 metros de altura vai bater com a cabeça no teto, enquanto os joelhos ficam um pouco altos (preço a pagar por muitos elétricos ao colocarem a bateria sob o piso). Além disso, o Capri na versão Premium destaca-se com bancos dianteiros aquecidos e massagem (condutor), câmara 360º, som B&O com acústica profunda e limpa…
Texto Juan P. Esteban Fotos Paulo Calisto
Conclusão
Gostámos da forma como se move, do comportamento estável e seguro, do seu equipamento e do equilibrado rendimento. O preço podia ser mais apetecível, mas face ao equipamento que dispõe acaba por se enquadrar perfeitamente com a principal concorrência. Aliás, esta versão intermédia de 286 CV é provavelmente a mais equilibrada da gama.
FICHA TÉCNICA
FORD CAPRI PREMIUM RWD ELÉTRICO 286 CV
TIPO DE MOTOR Elétrico, síncrono de íman permanente, traseiro
POTÊNCIA 286 CV (210 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 545 Nm
TRANSMISSÃO Traseira, caixa de relação única
BATERIA NMC de iões de lítio, 77 kWh
AUTONOMIA (WLTP) 598 km
TEMPO DE CARGA 8h a 11 kW CA (0-100%) – 28 min. a 135 kW CC (10-80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 180 km/h
ACELERAÇÃO 6,4 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 14,6 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.634 / 1.872 /1.626 mm
PNEUS frente: 235/55 R20 (fre.) 255/45 R20 (tras.)
PESO 2.114 kg
BAGAGEIRA 572-1.505 l
PREÇO 52.586 €
GAMA DESDE 42.351 €
I.CIRCULAÇÃO (IUC) 0
LANÇAMENTO Novembro de 2024























