Ainda que o Citygo tenha sido o primeiro elétrico da Skoda, o Enyaq dá início a uma nova etapa de veículos de emissões zero da marca checa. A moderna plataforma MEB anima um produto metade SUV, metade familiar, muito espaçoso e de consumo moderado, de forma a retirar o máximo dividendo da sua generosa bateria.
A indústria automóvel encontra-se num processo de enorme transformação que obriga, de certa forma, a reescrever a história. Não para diminuir a importância da sua herança, mas para começar a vislumbrar a mobilidade elétrica em detrimento dos motores de combustão.
Na Skoda, o Enyaq marca o ponto de inflexão elétrico, valendo-se da nova plataforma MEB do Grupo Volkswagen para este tipo de propulsão. A nível estrutural revela muitas semelhanças com o seu primo-irmão VW ID.4; a mesma distância entre eixos, motor e bateria e, ainda, o aspeto de quase SUV difícil de classificar: uns assumem que se trata de um SUV, outros acreditam que é um verdadeiro familiar.
Uma espécie de Kodiaq
Razão não falta a este debate. O Enyaq assume um porte similar ao do Kodiaq, ainda que com medidas ligeiramente mais contidas no comprimento (mede quase 4,65 metros) e especialmente em altura (é 40 mm mais baixo). A altura livre ao solo é de 186 mm, moderada para um SUV.
O apelido de familiar surge no primeiro momento que acedemos ao habitáculo, espaçoso e versátil, como em qualquer Skoda que se preze. É amplo em todas as cotas, destacando-se na distância entre filas, para favorecer uma viagem à-vontade para os passageiros.
Aqui, o piso plano é outro detalhe a seu favor (não existe regulação longitudinal do banco), e a bagageira confirma as boas aptidões familiares do Enyaq com 585 litros, ampliáveis a 1.710 rebatendo o encosto do banco traseiro. Além disso, conta com um prático e profundo fundo duplo para guardar os cabos de carregamento e um limpador para os mesmos, uma das novas soluções e-Simply Clever.
Ainda no capítulo da versatilidade surgem vários outros espaços de arrumação, dispostos na consola central, debaixo da mesma, portas… De igual forma surpreende positivamente a perceção de qualidade que emana. O desenho do interior parece um pouco mais cuidado que o do ID.4, criado a partir de distintas combinações de materiais e cores, agradáveis à vista e ao tato.
O enorme ecrã tátil concentra a atenção do condutor, e ao qual deve aceder para controlar a maioria dos sistemas do carro. Pelo menos propõe botões físicos para acesso às funções mais utilizadas. A gestão, uma vez acostumados à sua distribuição, é correta, se bem que se observa um ou outro “delay” no momento de mover menus no ecrã. Os gráficos, em todo o caso, são bons.
A digitalização também afeta o painel de instrumentos, um pouco baixo e com falta de personalização, ainda que complementado por um Head-up display com realidade aumentada que projeta algumas indicações sobre o para-brisas em segundo plano.
Elétrico racional
A gama Enyaq contempla quatro níveis de potência e duas baterias. No caso do “nosso” Enyaq iV 80, o segundo nível da oferta, o motor elétrico debita 204 CV para o eixo traseiro. Não é um número de nos deixar de queixo caído, mas satisfaz as necessidades de maioria dos utilizadores de forma muito razoável. Acima deste, existem versões 80X de 265 CV e RS de 306 CV e tração integral.
Acelera de forma imediata (8,5 segundos dos 0 aos 100 km/h), mas sem agressividade. O primeiro arranque parece estar muito bem controlado e o valor de potência é mais do que suficiente para ultrapassar em vias secundárias, estando a velocidade máxima limitada a 160 km/h. Tudo para conter o consumo, que no Enyaq é moderado. Em autoestrada, a ritmos mais vivos, o computador de bordo indica valores acima dos 22 kWh/100 km, mas a média total, circulando por todo o tipo de estradas, cidade incluída, foi de 20,3 kWh/100 km. Se combinarmos tudo isto com a bateria de 82 kWh, falamos de uma autonomia real abaixo de 400 km; para os superar ou aproximarmo-nos dos 520 km homologados, terá de se realizar uma condução muito tranquila e relaxada.
Isto não significa que este Skoda não seja capaz de aproveitar bem a capacidade de regenerar energia durante a marcha (na travagem e desaceleração). Para isso dispõe de três níveis distintos, acionados a partir das patilhas no volante, e um mais outro automático, de retenção bem conseguida, que se ativa com um segundo pisar no acelerador.
Aparte disto, dispõe dos habituais modos de condução (Eco, Comfort, Normal, Sport e Individual) que, não obstante, não interferem muito na sensação de conforto. Neste sentido, convém optar pela suspensão adaptativa opcional, com amplas possibilidades de regulação (há ainda uma suspensão mais firme disponível no catálogo).
Suavidade como norma
O rolar do Enyaq é deveras suave, bem isolado dos ruídos exteriores e com um elevado conforto de amortecimento. À custa de castigar os pneus, inerente às suas mais de duas toneladas de peso, defende-se com competência nos percursos mais exigentes. E quando chega à cidade, apesar de ser um carro de certa envergadura, é fácil de manobrar em espaços mais reduzidos, graças a um bom raio de viragem. Um conjunto muito refinado que abre a nova mobilidade elétrica na Skoda.
Texto Juan Pablo Esteban
Fotos Paulo Calisto
CONCLUSÃO
Produto muito completo esta primeira tentativa SUV elétrica da Skoda, com um equipamento muito competitivo, ainda que com vários opcionais. Espaçoso, refinado e com um nível de conforto de assinalar é um dos bons modelos da marca checa da atualidade.
FICHA TÉCNICA
SKODA ENYAQ IV 80
TIPO DE MOTOR Elétrico síncrono de íman permanente
POTÊNCIA 204 CV (150 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 310 Nm
BATERIA Iões de lítio, 82 kWh
AUTONOMIA (WLTP) 510 km
TEMPO DE CARGA Entre 6 a 8 horas a 11 kW (100%)
38 min a 125 kW DC (5 a 80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 160 km/h
ACELERAÇÃO 8,5 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 16,7 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.649 / 1.879 / 1.616 mm
PNEUS 235/55 R19 (fre.) 235/50 R19 (tras.)
PESO 2.090 kg
BAGAGEIRA 585-1.710 l
PREÇO 47.108 €
GAMA DESDE 36.480 €
I.CIRCULAÇÃO (IUC) 0 €
LANÇAMENTO Junho de 2021