O ano de 2026 representa um teste decisivo para a indústria automóvel europeia. Num cenário em que a China dita o ritmo da inovação e os construtores do continente lutam para preservar o seu peso técnico e industrial, a influência de líderes globais, vindos de fora das suas fronteiras, é mais crucial do que nunca.
A estratégia europeia para esta década será moldada não apenas por decisões internas, mas pela forma como responderá aos movimentos de cinco figuras-chave. Estas personalidades, provenientes dos EUA e da Ásia, estão a redefinir os paradigmas da mobilidade — da eletrificação e do software aos modelos de negócio — e a forma como a Europa navegará as suas ambições dependerá, em grande medida, da compreensão das suas visões. Eis os 5 nomes:
1. Zeng Yuqun (Robin Zeng) – CATL (China)
Se a bateria é o coração do veículo elétrico, então Zeng Yuqun, fundador e CEO da CATL, controla o pulso da transição global. Como líder da maior fabricante mundial de baterias, a sua influência é quase incomparável. Para a Europa, que está a acelerar a sua própria produção de células, Zeng é simultaneamente um fornecedor essencial e um concorrente estratégico. As decisões da CATL sobre preços, tecnologia (como as células de estado sólido) e localização de novas gigafábricas terão um impacto direto na competitividade de custos dos veículos elétricos fabricados no continente. A sua empresa não dita apenas o ritmo da eletrificação, mas molda as próprias condições da concorrência industrial.
2. Mary Barra – General Motors (EUA)
Mary Barra, à frente da General Motors desde 2014, personifica a transformação de uma gigante tradicional numa empresa focada em tecnologia e mobilidade elétrica. A sua visão estratégica, materializada na plataforma Ultium, é crucial para a Europa. A GM, embora menos dominante a nível global, mantém-se como uma referência tecnológica e de produção. As suas apostas em software, condução autónoma e fabrico integrado oferecem um estudo de caso vital para os construtores europeus que enfrentam os mesmos desafios de transformação. As suas decisões, especialmente no que diz respeito à resposta competitiva aos construtores chineses, serão analisadas em detalhe nas salas de administração do continente.
3. Stella Li – BYD (China)
Stella Li, Vice-Presidente Executiva da BYD, é a arquiteta da expansão global mais agressiva da indústria. Liderando a ofensiva nos mercados internacionais, transformou a BYD de uma campeã nacional num fenómeno mundial, com presença consolidada em regiões como a Europa. A sua influência no continente é direta e palpável, nomeadamente com a abertura de uma fábrica na Hungria e o desenvolvimento de uma cadeia de abastecimento local. Li representa o desafio chinês na sua forma mais sofisticada: não apenas carros mais baratos, mas veículos de tecnologia avançada, com qualidade de segurança premiada (como as 5 estrelas Euro NCAP do Dolphin Surf) e uma rede de carregamento ultrarrápido planeada para o continente. A sua liderança força a indústria europeia a repensar a eficiência, a velocidade de desenvolvimento e a integração vertical.
4. Elon Musk – Tesla (EUA)
Apesar das polémicas e dos desafios comerciais recentes, Elon Musk mantém-se como uma das figuras mais influentes da indústria, especialmente em áreas onde a Europa ainda procura maior protagonismo: *software*, produção altamente integrada e ecossistemas de mobilidade. A Tesla serve como um acelerador externo, forçando os construtores tradicionais a evoluir. As suas inovações em processos de fabrico, como o conceito *Giga Press*, e a sua insistência na centralidade do *software*, continuam a definir tendências que os concorrentes europeus observam e adaptam. A pressão competitiva da Tesla é um fator estrutural que molda as estratégias de produto e investimento em toda a Europa.
5. Akio Toyoda – Toyota (Japão)
Os 5 nomes ficam completos com o incontornável Akio Toyoda, presidente da Toyota, e símbolo de uma visão pragmática e multifacetada da transição energética. Num contexto europeu fortemente focado na eletrificação pura a bateria, a estratégia de Toyoda — que equilibra híbridos, elétricos e células de combustível — oferece um contraponto crucial. O seu ceticismo público em relação a uma transição exclusiva para os elétricos alimenta o debate político e industrial na Europa, onde questões sobre a resiliência da rede elétrica, o acesso a matérias-primas e a neutralidade tecnológica estão cada vez mais na ordem do dia. A pressão competitiva da BYD e de outras construtoras chinesas sobre a Toyota serve também como um alerta para as marcas europeias sobre a velocidade e escala da disrupção vinda da Ásia.
















