A nova temporada da série portuguesa que é um sucesso global da Netflix estreou ontem. Mas décadas antes de dar nome a este fenómeno da televisão, “Rabo de Peixe” já cortava estradas como uma ousada declaração de estilo automóvel. Esta é a história da era das barbatanas.
A pequena vila açoriana de Rabo de Peixe está, uma vez mais, no centro das atenções do mundo. A aclamada série portuguesa estreou ontem a sua segunda temporada na Netflix, consolidando-se como um dos maiores sucessos de ficção nacional . No entanto, o que muitos dos seus novos fãs globais não sabem é que, muito antes de Eduardo e dos seus amigos se depararem com uma tonelada de cocaína, os “rabos de peixe” já eram uma lenda noutro contexto: o do design automóvel.
A era de ouro dos “rabos de peixe” automóveis dominou as estradas nas décadas de 1950 e 1960, representando o pináculo do design americano, importando a aerodinâmica dos aviões a jato para os carros.
A origem:
A inspiração para este elemento de design é atribuída a Franklin Quick Hershey, o chefe do GM Special Car Design Studio na época. Hershey terá ficado impressionado com os lemes gémeos de um caça P-38 Lightning e imaginou que aquela seria uma adição elegante para a traseira dos Cadillac. Foi assim que, em 1948, nasceram as pequenas aletas no Cadillac, marcando o início de uma revolução estética .
Contudo, foi Virgil Exner, o designer da Chrysler, com o seu “Forward Look”, quem verdadeiramente popularizou. As suas criações levaram os vários fabricantes a uma autêntica corrida, competindo para instalar “rabos de peixe” cada vez maiores e mais ousados nos seus novos modelos.
Mas a justificação para estas estruturas ia muito além do mero capricho estético. A Plymouth defendia que as suas barbatanas não eram simples ornamentos, mas sim “estabilizadores” que reduziam em 20% a necessidade de correções de direção em vento cruzado.
O declínio e a questão da segurança:
A tendência não foi exclusiva dos fabricantes americanos. A Mercedes-Benz introduziu “rabos de peixe”, desde os W111 de 1959, que ficaram conhecidos como “Fintails”. A marca, no entanto, preferia chamar-lhes “Peilstege”, linhas de visão que ajudavam nas manobras em marcha-atrás.

Contudo, este icónico elemento de design não ficou isento de controvérsia. As pontas afiadas dos “rabos de peixe” foram criticadas como um perigo para a segurança, mesmo com o veículo estacionado. Dois casos judiciais emblemáticos – Kahn v. Chrysler (1963) e Hatch v. Ford (1958) – envolveram crianças que sofreram ferimentos na cabeça após colidirem com estas protuberâncias. Em ambos os processos, os tribunais absolveram os fabricantes, considerando que não podiam ser responsabilizados por antecipar todas as formas possíveis de alguém se magoar ao cair contra um automóvel. Mas… era o princípio do fim de um estilo.