Num novo livro revelador, Carlos Tavares, o ex-CEO que comandou a fusão que criou o gigante automóvel Stellantis, soa o alarme sobre a futura coesão do grupo.
Carlos Tavares, o principal arquiteto por trás da união entre a PSA e a FCA, expressa uma preocupação profunda com a possível rutura do frágil equilíbrio de poder entre os interesses de França, Itália e os EUA. O seu receio é que, sem uma atenção constante à sua união, este “porta-aviões” industrial possa fragmentar-se.
O dirigente português vai mais longe e especula sobre um cenário concreto de separação. Na sua perspetiva, uma possibilidade real seria um construtor chinês fazer uma proposta de aquisição pelo negócio europeu do grupo, enquanto os acionistas norte-americanos recuperariam o controlo total das operações na sua região. Esta hipótese não é descabida, uma vez que a própria Stellantis aprofundou laços com a China ao tornar-se acionista da fabricante Leapmotor em 2023.
O alerta de Tavares surge num contexto de fortes desafios para o grupo, que incluem a feroz concorrência chinesa, uma quebra na procura de veículos e o pesado fardo das regulamentações ambientais europeias, que já levaram ao encerramento temporário de várias fábricas no continente. A sua própria saída, segundo ele, pode ter desequilibrado a balança, colocando em causa a defesa dos interesses franceses que sempre afirmou ter “no coração”. Este receio é amplificado pelo recente anúncio de um maciço investimento de 13 mil milhões de dólares nos EUA pela nova liderança, um sinal que preocupa os sindicatos europeus e que pode indicar uma mudança estratégica do centro de gravidade do grupo.

















