Pouco aprendemos com a crise dos chips da pandemia. Um novo “desabastecimento” de semicondutores, desta vez gerado por uma disputa geopolítica, ameaça parar a indústria automóvel europeia em dias, repetindo os fantasmas de 2021. A dependência de um componente minúsculo volta a expor a fragilidade da nossa economia.
30 de Outubro de 2025 – A Europa parece não ter aprendido as lições da crise dos chips que paralisou a indústria durante a pandemia. Um novo e severo desabatecimento de semicondutores, despoletado pela disputa entre os Países Baixos e a China sobre o controlo da fabricante Nexperia, ameaça parar as linhas de produção automóvel no continente em questão de dias, segundo alerta da associação do setor.
A situação é tão grave que a Stellantis, dona de marcas como Peugeot, Fiat e Citroën, já ativou um “gabinete de guerra” para gerir a crise hora a hora. O diretor-executivo, Antonio Filosa, descreveu uma “gestão dia a dia” do problema, um eco inquietante dos piores momentos da crise anterior.
O gatilho desta nova crise foi a decisão do governo holandês, em setembro, de assumir temporariamente o controlo da Nexperia, uma fabricante de chips detida pela chinesa Wingtech, com receios de fugas de tecnologia. A retaliação de Pequim, com o bloqueio de exportações de materiais, criou um estrangulamento instantâneo na cadeia de fornecimento. Apesar de os chips serem produzidos na Europa, 70% da sua embalagem é feita na China, revelando uma vulnerabilidade crítica que persiste.
Stocks a esgotar-se e um apelo diplomático
A Associação Europeia de Fabricantes Automóveis (ACEA) soou o alarme: os stocks de chips estão a esgotar-se rapidamente e a paragem das linhas de produção “pode estar a dias de distância”. Sigrid de Vries, diretora-geral da ACEA, afirmou que o setor está a “redobrar esforços para encontrar uma solução diplomática” para esta “situação crítica”.
Do lado dos construtores, a Volkswagen, que assegura ter stock para o curto prazo, já pediu uma “rápida solução política”, um sinal de que a resolução está nas mãos dos governos e não das empresas.
Impacto em Portugal: Acalmar para quê?
Em Portugal, a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) confirmou o estado de alerta. “Os construtores estão a recorrer a stocks, mas terminados os stocks poderá ser problemático”, admitiu Helder Barata Pedro, secretário-geral da ACAP, ao Jornal Económico.
As maiores fábricas nacionais, a Autoeuropa (Volkswagen) e a Stellantis em Mangualde, mantêm, por enquanto, a produção normal. No entanto, a crise já fez a sua primeira vítima em solo nacional: a fábrica da Bosch em Braga colocou 2.500 trabalhadores em ‘lay-off’ devido à falta de componentes, um aviso sombrio do que pode vir a acontecer a uma escala mais vasta.
Enquanto isso, a indústria apercebe-se de que a busca por fornecedores alternativos é uma corrida de meses, tempo que simplesmente não têm. A pergunta já não é se vamos reviver os piores momentos da crise dos chips, mas sim quão profundas serão esta vez as cicatrizes.
 
			
















