A China revelou um plano abrangente para estabilizar o crescimento do setor automóvel nos próximos dois anos, respondendo a uma intensa guerra de preços entre fabricantes e a crescentes dificuldades nas exportações de veículos chineses. Esta estratégia governamental, anunciada por oito agências estatais, inclui medidas para regular a concorrência, incentivar a inovação e proteger o mercado interno, refletindo uma mudança significativa na política industrial do país.
Contexto e objetivos do plano chinês
O plano estabelece uma meta de crescimento moderado de 3% nas vendas de veículos em 2025 face a 2024, totalizando aproximadamente 32,3 milhões de unidades vendidas. Este valor representa uma desaceleração face ao crescimento de 4,5% registado entre 2023 e 2024, segundo dados da Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (Caam).
A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação e outras sete entidades governamentais, com diretrizes específicas para 2025 e 2026. Entre as medidas destacam-se:
-
Reforço dos inquéritos sobre custos e monitorização de preços
-
Incentivos à inovação tecnológica
-
Apoio à procura interna
-
Promoção de um desenvolvimento mais saudável e sustentável do setor
Guerra de preços e concorrência interna
O setor automóvel chinês tem enfrentado uma guerra de preços implacável desde janeiro de 2023, quando a Tesla iniciou cortes agressivos nos seus modelos produzidos na China. Esta dinâmica levou a que muitos fabricantes, especialmente empresas recentemente criadas, enfrentassem dificuldades financeiras significativas, com várias a declararem falência.
A situação atingiu tal gravidade que, entre janeiro e maio de 2025, o lucro total das montadoras chinesas caiu 12% para 178 mil milhões de yuans (cerca de 24,8 mil milhões de dólares). Altos responsáveis chineses apelaram em julho passado à contenção da “concorrência irracional” e ao incentivo de um desenvolvimento mais “saudável” do setor.
Desafios nas exportações e tensões internacionais
Os fabricantes chineses enfrentam obstáculos crescentes nos mercados internacionais, particularmente na União Europeia, que iniciou em 2023 uma investigação sobre práticas de concorrência desleal.
Esta semana, o México anunciou um projeto de lei para aumentar as tarifas sobre automóveis chineses de 15-20% para 50%, uma medida que irritou Pequim. O governo mexicano justificou a decisão como necessária para “proteger empregos locais” e evitar que veículos chineses entrem no mercado “abaixo dos preços de referência”.
Estratégia para veículos de nova energia (NEVs)
O plano chinês atribui especial importância aos veículos de nova energia (NEVs), estabelecendo uma meta de vendas de 15,5 milhões de unidades em 2025, representando um crescimento anual de aproximadamente 20%. Este ambicioso objetivo reflete o investimento massivo do Estado chinês no desenvolvimento da indústria de veículos elétricos nos últimos anos.
A China mantém-se como líder global nas vendas de NEVs, com uma taxa de penetração de 46,6% no primeiro semestre de 2025. Este sucesso deve-se em parte a políticas de incentivo, incluindo isenções de imposto sobre compra (até 30.000 yuans por veículo) e subsídios de troca que podem chegar aos 15.000 yuans.
O plano chinês para “estabilizar” o setor automóvel reflete uma mudança estratégica face aos desafios sem precedentes que afetam a indústria global. Ao combinar medidas de regulação interna com incentivos à inovação e apoio às exportações, a China pretende navegar num ambiente internacional cada vez mais complexo e proteger a sua posição como líder automóvel global.
Os próximos dois anos serão cruciais para determinar se esta estratégia permitirá à China manter o seu crescimento sustentado enquanto enfrenta guerras de preços internas e barreiras comerciais externas.