2025 termina com a Tesla atrás da BYD na venda de elétricos, mas as estimativas consolidadas dos analistas de Wall Street dizem que a marca de Elon Musk vai recuperar de forma acentuada, com as vendas a quase duplicarem até ao final da década. O que nos está a escapar…?
Num gesto incomum de transparência — ou de engenhosa antecipação a más notícias — a Tesla divulgou publicamente o “consenso de entregas compilado pela empresa” a partir de estimativas de mais de 20 firmas financeiras, incluindo Morgan Stanley e Barclays. O documento, partilhado dias antes dos resultados oficiais do quarto trimestre, revela que os analistas antecipam uma queda acentuada nas vendas este ano, mas esperam um crescimento exponencial a médio prazo, sustentado na promessa da condução autónoma.
Ano duro para uma gama ‘cansada’
As projeções compiladas pela Tesla pintam um quadro claro de um período de transição difícil. Para o quarto trimestre de 2025, os analistas esperam 422.850 entregas globais, uma queda homóloga de 15% face ao período excecional do ano anterior. No conjunto de 2025, a previsão aponta para 1,64 milhões de veículos entregues, uma redução de 8,3% face a 2024, o que marca o segundo ano consecutivo de contração.
Explicações? A linha principal de modelos da Tesla (Model 3, Y, S, X) sofre de envelhecimento perceptível perante uma concorrência global que renova os seus portfolios de forma agressiva e frequente. As recentes versões “Standard” do Model 3 e Model Y são vistas pelo mercado como meras variantes de baixo custo dos produtos existentes, falhando em estimular significativamente a procura ou renovar o interesse. Depois, a revogação do crédito fiscal federal de $7.500 para veículos elétricos nos EUA, que criou um “buraco” artificial nas vendas. E, claro, o “Efeito Elon”, com uma crescente polarização em torno da figura do CEO.
Contudo, a visão a longo prazo da Wall Street é marcadamente mais otimista. Espera-se uma recuperação gradual, começando com 1,75 milhões de unidades em 2026 (uma subida modesta de 6,6%), atingindo cerca de 2,0 milhões em 2027 (superando finalmente o recorde de 2023) e crescendo de forma consistente para aproximadamente 2,35 milhões em 2028. A grande meta está em 2029, com projeções a apontar para mais de 3,0 milhões de entregas, um número que quase duplicaria as vendas de 2025. É crucial notar que, especialmente para 2029, existe um elevado desvio padrão de quase um milhão de unidades nestas estimativas. Esta enorme divergência entre analistas reflete a incerteza fundamental sobre a capacidade da Tesla em materializar a sua visão futura.
O que nos está a escapar?
Perante estes desafios imediatos no negócio tradicional de automóveis, o que nos está a escapar? A estratégia da Tesla para o crescimento futuro é clara e assume um risco elevado: tudo depende do sucesso dos robotaxis e da tecnologia de condução autónoma. A empresa cancelou explicitamente os planos para um veículo elétrico acessível de $25.000, redirecionando esses recursos para a sua visão autónoma. O ponto central e catalisador deste plano é o Cybercab, um robotaxi sem volante cuja produção está prevista para iniciar em abril de 2026. Este veículo é considerado pela administração da Tesla — e pelos analistas mais optimistas — como o motor que permitirá à empresa aceder ao lucrativo mercado de “mobilidade como serviço” (MaaS), que promete margens operacionais radicalmente superiores às da venda de carros a particulares.
