Nos anos 80, quando a SEAT ainda dava os primeiros passos como marca independente após o divórcio da Fiat, os engenheiros de Martorell conceberam um projeto tão audaz que quase parece ficção científica. A ideia? Desenvolver um verdadeiro desportivo de entrada de gama em parceria com a lendária Porsche. O resultado foi o misterioso Porsche 984, um protótipo que nunca chegou à produção mas que deixou marcas profundas na história automóvel.
Tudo começou em 1984, quando a SEAT, ainda vista como uma fabricante de carros económicos, propôs à Porsche uma colaboração inédita. O objetivo era criar um roadster bilugar acessível, mas com o inconfundível ADN desportivo de Stuttgart. O projeto avançou rapidamente, com os alemães a desenvolverem um motor boxer de 2.0 litros especialmente para este modelo, enquanto a equipa espanhola trabalhava numa carroceria revolucionária em plástico reforçado com fibra de vidro que mantinha o peso em apenas 880 kg– menos que um moderno Fiat 500.
O 984, como foi batizado em referência ao ano do seu desenvolvimento, destacava-se pelo design aerodinâmico refinado em túnel de vento e por um interior que incorporava componentes dos Porsche 944 e 928. Com 135 cv e uma velocidade máxima de 220 km/h, este “Porsche júnior” prometia uma experiência de condução vibrante a um preço supostamente acessível.
Mas o destino reservava-lhe um fim prematuro. Os custos de desenvolvimento – equivalentes a 61 milhões de euros atuais – revelaram-se proibitivos para a SEAT, cuja rede comercial na época se limitava essencialmente ao mercado espanhol. Em 1985, a marca espanhola abandonou o projeto para se focar no desenvolvimento do Ibiza Cabrio, outro modelo que acabaria por nunca ver a luz do dia. Curiosamente, a Porsche manteve o 984 em desenvolvimento até 1988, altura em que a crise económica ditou o seu cancelamento definitivo.
Apesar de nunca ter chegado às estradas, o 984 deixou um legado importante. Muitas das suas soluções técnicas acabariam por ser aproveitadas no Porsche Boxster, lançado quase uma década depois. E provou que, mesmo nos seus anos mais difíceis, a SEAT era capaz de sonhar alto – muito antes do nascimento da Cupra.
Hoje, quando a marca celebra 75 anos de história, o Porsche 984 permanece como um dos seus capítulos mais intrigantes. Uma colaboração secreta que podia ter reescrito o destino da SEAT e que continua a fascinar os entusiastas automóveis. Quem sabe se, num futuro próximo, a marca não resgatará este conceito sob a égide da Cupra? Afinal, na indústria automóvel, as melhores ideias nunca morrem – apenas aguardam o momento certo para renascer.