Mazda 6e – O herdeiro elétrico

Vitor Mendes

1 mês ago

Após mais de duas décadas e três gerações do Mazda6, a marca diz adeus aos motores de combustão no sedan e abre caminho à mobilidade elétrica. O novo 6e faz a passagem de testemunho, com uma evolução do design KODO, a mais recente tecnologia e mais de 500 km de autonomia sem emissões.

Com mais de quatro milhões de unidades vendidas desde 2002, o ‘6’ era um pilar fundamental da marca – e esta reencarnação a bateria, fruto da joint-venture entre a Mazda e o gigante chinês Changan, promete honrar esse legado. Produzido na China para a Europa, chegará a Portugal em versões exclusivamente elétricas, por preços a partir dos 40.050 €. Um valor interessante para uma berlina que se mede com o Tesla Model 3 e o BMW i4. Mas será que a condução jinba ittai – tão carismática nos Mazda a combustão – sobreviveu à transição? Fomos descobrir nas estradas alemãs nos arredores de Düsseldorf, uma cidade conhecida pela indústria da moda e pelo cenário artístico. Por falar em cenário, o design do 6e é um exercício de equilíbrio entre tradição e futurismo. As linhas fluidas da carroçaria – com capot alongado, traseira fastback e óticas circulares que evocam o mítico RX-7 – confirmam a assinatura estética da marca. Mas há uma densidade nova nas proporções: os arcos de roda mais generosos, os painéis laterais esculpidos com nervuras aerodinâmicas e os faróis LED ultra-finos resultam num conjunto a meio caminho entre o Kodo japonês e a sensibilidade chinesa para o premium. O resultado? Uma berlina que atrai olhares, mas sem a consensualidade do modelo que substitui.

Plataforma estratégica

A base técnica é outro segredo desta reinvenção. Ao adaptar a arquitetura modular EPA-F do Deepal L07 (da Changan), a Mazda acelerou o desenvolvimento sem abdicar do seu know-how dinâmico. Dois conjuntos motopropulsores estarão disponíveis: a versão Standard, com motor traseiro de 258 CV (190 kW), bateria LFP de 68,8 kWh, autonomia WLTP combinada de 479 km (até 605 km urbano); e Long Range: 245 CV (180 kW), bateria NMC (níquel-manganês-cobalto de 80 kWh, 552 km WLTP (692 km urbano). Ambos partilham o mesmo binário (320 Nm) e priorizam eficiência, com consumos médios rondam os 16.5 kWh/100 km. No carregamento DC rápido, recupera 80% da bateria em 24 minutos (Standard) ou 47 minutos (Long Range), garantindo até 235 km adicionais em 15 minutos.

Condução refinada

Ao volante, a primeira surpresa é a refinada modulação dos pedais. Em modo Normal, a aceleração é progressiva e previsível, com recuperação de energia suave – ideal para trânsito denso. No entanto, basta selecionar Sport para o 6e revelar seu caráter: a direção ganha peso artificial mas mantém precisão cirúrgica, enquanto o binário instantâneo empurra as costas contra o banco sem hesitações. Nas curvas, o controlo de massa é notável para os 1.980 kg (versão Long Range). A suspensão multibraços traseira e dianteira de duplo triângulo foi afinada pela equipa de Hiroshima, garantindo o rolar contido da carroçaria e reações lineares. Notámos firmeza excessiva nos poucos metros de pavimento irregular no percurso, algo a confirmar no primeiro teste em solo luso.

ADN desportivo

Interior minimalista com asteriscos

O habitáculo aposta num luxo discreto. Materiais tácteis (falso alcântara, metais escovados) e costuras contrastantes criam um ambiente premium. Os bancos dianteiros, com aquecimento/ventilação, são ergonómicos para longas distâncias, mas o espaço traseiro é apenas suficiente para adultos de estatura média. E também a tecnologia divide opiniões: o painel digital de 10.25″ e o ecrã central flutuante de 14″ oferecem gráficos nítidos, mas a obsessão pelo minimalismo eliminou botões físicos críticos (ex: controlo de climatização). O sistema de infotenimento, com ChatGPT integrado e assistente vocal, é poderoso mas exige curva de aprendizagem. Já o frunk (72 litros) e a mala (466 litros, menos profunda que a do antigo 6 a combustão) compensam na utilidade. Tudo somado, o 6e coloca-se como alternativa competitiva aos mainstream alemães, embora a verdadeira prova de fogo venha do lado de lá do Atlântico (Tesla). E o Mazda tem o que é preciso para responder à letra.

Qualidade premium