Parece um título para uma revista de energia, mas a revolução tecnológica que a Heineken vai instalar em Portugal devia interessar a todos os amantes de inovação. A fórmula é simples: armazenar eletricidade renovável em calor.
Uma bateria diferente de todas as outras
A Heineken, em parceria com a Rondo Energy e a EDP, escolheu a sua fábrica em Vialonga para instalar a maior bateria térmica do mundo na indústria de bebidas. O que é, afinal? Esta bateria não armazena eletrões, armazena calor. Imagine um bloco gigante de tijolos especiais, aquecidos a mais de 1000 °C usando eletricidade solar barata. Esse calor é depois libertado sob a forma de vapor de alta pressão, que coze o malte e produz a cerveja, substituindo completamente o gás natural. É uma solução elegante e robusta: não usa metais raros, não se degrada e dura décadas, sendo uma alternativa pura e dura aos combustíveis fósseis.
A ligação (indireta) com o mundo automóvel
O que é que uma fábrica de cerveja tem a ver com carros? Tudo e nada. Não é para pôr no lugar do motor, mas o princípio da maior bateria térmica é poderosamente relevante. Em primeiro lugar, a transição energética não se faz só nos escapes. A indústria pesada é um dos maiores emissores de CO2. Enquanto o setor automóvel avança com os EV, projetos como este mostram como descarbonizar setores onde a eletrificação direta é complexa. É um “test drive” tecnológico de sucesso noutro palco. Além disso, esta bateria “carrega” nas horas de sol, quando a eletricidade é mais barata e abundante. Isto ajuda a estabilizar a rede elétrica, que é a mesma que irá alimentar a frota de carros elétricos do futuro, evitando sobrecargas e tornando todo o sistema mais resiliente.
Potência, negócio e o futuro
Com uma capacidade de 100 MWh – energia equivalente a centenas de milhares de quilómetros percorridos por um EV – e uma potência térmica de 7 MW, este projeto é um gigante. O modelo de negócio é igualmente inovador: a Heineken não comprou a bateria, está a pagar pelo serviço de vapor limpo, num esquema de “Heat-as-a-Service”, tal como nós pagamos pela gasolina ou eletricidade. É um conceito que poderia inspirar novos modelos de mobilidade.
