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Geely desafia os veículos elétricos apostando no metanol

O visionário Li Shufu, fundador da Geely, quer ir além da eletrificação, adaptando veículos a combustão ao metanol e combustíveis bio/sintéticos.

Li Shufu construiu um império automóvel, a Geely, mas a sua estratégia tem sido mais internacional, expansionista e avançada do que a do gigante da moda BYD. Agora, a Geely quer ir além da eletrificação, apostando, primeiro na China e depois globalmente, no metanol e nos combustíveis bio/sintéticos, tudo isto combinado com a produção e lançamento dos seus próprios satélites para oferecer uma nova mobilidade tão diferente quanto sustentável.

No final dos anos 90, poucos apostariam um yuan naquele filho de camponeses de Taizhou que, sem formação em engenharia, sonhava em fabricar carros numa China onde a indústria automóvel era território exclusivo do Estado.

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Li Shufu não só realizou o seu sonho, como também criou uma rede de marcas globais sob a alçada do Geely Group: Geely Auto, Volvo Cars, Lynk & Co, a premium chinesa Zeekr, Livan, Polestar, Proton, Smart (em conjunto com a Mercedes-Benz, detendo simultaneamente quase 10% do capital da marca da estrela), os London Taxi, Lotus e a nova Farizon de furgões.

GellyA expansão internacional da Geely é um dos capítulos mais impressionantes da indústria automóvel moderna. Em cada movimento, a receita foi a mesma: apostar onde outros duvidam, integrar o melhor do Oriente e do Ocidente e construir valor a longo prazo. Resultado? 3,34 milhões de veículos vendidos em 2024.

Desde o início, fabricando peças sobressalentes para frigoríficos usados em 1986, até criar o primeiro carro de produção privada na China, Li Shufu demonstrou uma habilidade única: ver oportunidades onde outros viam impossibilidades. Em 2010, surpreendeu o mundo ao comprar a Volvo Cars, a joia sueca que a Ford não soube rentabilizar e graças à qual surgiram mais tarde a Lynk&Co e a Polestar. Muitos previram o seu fracasso. Uma década depois, a Volvo está mais sólida do que nunca e a Polestar já está cotada na Nasdaq.

Agora, enquanto os gigantes do setor parecem concentrar-se exclusivamente no carro elétrico e híbrido plug-in — um exemplo é a também chinesa BYD, liderada pelo seu criador e presidente, Wang Chuanfu —, Li Shufu, além de se concentrar na eletrificação, lidera uma contraofensiva em várias frentes, onde a sua verdadeira revolução/originalidade passa por devolver o protagonismo ao motor de combustão com uma fórmula limpa e rentável, o metanol.

A China, decidida a reduzir a sua dependência energética do petróleo e do carvão externo porque o seu próprio carvão contém demasiado enxofre, selecionou o metanol – produz e consome mais de 60% do metanol mundial – como um dos três pilares estratégicos do transporte do futuro, juntamente com a eletricidade e o hidrogénio. Embora o metanol tenha uma densidade energética de 50% da gasolina, produz 40% menos CO₂ – e vai melhorar com novas soluções – e custa quase a metade.

E a Geely, já com mais de 40.000 carros a metanol em circulação, lidera esta frente silenciosa. Ao contrário da eletricidade, cuja origem na China continua a ser maioritariamente o carvão (60%), o metanol oferece uma via mais limpa e eficiente. Produzido a partir de excedentes de carvão não adequados para combustão direta, resíduos agrícolas ou hidrogénio verde, o metanol pode alimentar motores convencionais adaptados com ligeiras modificações.

A Geely já registou mais de 300 patentes neste campo e defende que esta via pode alcançar uma transição energética muito mais inclusiva, económica e rápida. Li Shufu defende há anos que o carro elétrico não é a panaceia nem o único caminho: o metanol oferece uma alternativa sustentável, acessível e tecnologicamente viável, além de poder aproveitar a infraestrutura atual de reabastecimento.

Mas sem deixar de lado a combustão, lembremos também que a Geely detém 45% da Horse, a empresa que, juntamente com o Grupo Renault (45%) e a petrolífera saudita Aramco (10%), trabalha em motores de combustão interna, mas com a grande novidade apresentada no Salão de Xangai sob o nome Future Hybrid, que permitirá às marcas que fabricam veículos elétricos transformá-los facilmente em híbridos, graças a um sistema tudo em um fácil de integrar.

Além disso, a Geely já deu um passo inédito na indústria automóvel, a menos que procuremos paralelos espaciais com Elon Musk: lançou a sua própria constelação de satélites. Hoje, mais de 30 satélites já permitem que os seus veículos estejam conectados em 90% do planeta, com a meta ambiciosa de chegar a 5.765 satélites. Essa rede não só melhorará a experiência de condução, mas será fundamental para a implantação da condução autónoma, uma das grandes promessas da mobilidade do futuro.

Enquanto o mundo automóvel aposta cegamente na eletrificação, Li Shufu persiste na sua visão alternativa. Para muitos, continua a ser um «louco»; para outros, o empresário mais lúcido da nova mobilidade. O tempo dará ou tirará razão a Shufu.

 

 

 

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